ANSIEDADE E TRAUMA NO ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA

Que as emoções façam parte do cotidiano da sala de aula, ninguém têm mais dúvidas. Não só professores e professoras vivem e convivem diariamente com aquilo que alunas e alunos nos trazem diariamente, como cada vez mais o campo da educação exige um olhar para os aspectos emocionais da vida escolar. Uma convergência de campos de pesquisa vêm apontando para como o desenvolvimento de uma rica vida emocional é mais do que somente um “empecilho” para a educação, mas parte integral da aprendizagem. Mary Helen Immordino-Yang e Antonio Damásio falam em “pensamento emocional”; e há cada vez mais pressão para uma “educação sócio-emocional” a-crítica e a-histórica. O que esse volume pretende é apresentar um campo de estudos sobre as emoções em sala de aula que discute como a escola, na forma de um microssistema que pode reproduzir tanto operações de poder quanto produzir potência e liberdade, pode agir para produzir ansiedade e fortalecer traumas, ou para mitigar traumas e romper barreiras erguidas pela ansiedade à matemática, às ciências e à avaliação. Esse volume é fruto de cinco anos de pesquisa do Grupo de Pesquisas em Neurociências, Comportamento & Cognição (Unifesspa), no campo da educação em ciências e matemática, e do Grupo de Estudos e Pesquisa em Ensino de Ciências (Gepec/Unifesspa). Juntando achados das neurociências, da psicologia educacional e escolar, da psicologia social, da teoria da atividade, da sociologia das emoções, e da teoria crítica, nos aprofundamos em tentar entender fenômenos como a Ansiedade às Ciências, a Ansiedade à Matemática, e o ensino informado pelo trauma, e como professores e professoras compromissados com uma educação libertadora podem utilizar esses conhecimentos para, através de uma “curadoria afetiva”, discutir essas emoções negativas, re-ligá-las às suas raízes comunitárias e coletivas, e levar a escola a assumir um papel ativo na vida emocional de seus estudantes. Longe de encontrar “receitas de bolo”, o professor e a professora encontrarão aqui uma perspectiva crítica e transdisciplinar sobre esses fenômenos, suas relações e impactos na aprendizagem, e como a escola pode contribuir para gerar ou manter estados de ansiedade, estresse, e trauma – ou, se aberta à criticidade de suas próprias práticas, mitigar esses estados ao reconectá-los às suas raízes coletivas No primeiro capítulo, apresentamos um paradigma geral para avançar além da “educação socioemocional”, a-crítica e a-histórica, conectando teóricos como Mary Helen Immordino-Yang, Antonio Damásio, Albert Bandura, Vygotsky e Bronfenbrenner à leitura crítica das relações entre saúde mental e opressão contidas na Abordagem Poder-Ameaça-Significado. Esse paradigma geral serve de base para a compreensão dos outros fenômenos analisados nos próximos capítulos. No segundo capítulo, apresentamos o conceito de Ansiedade às Ciências (o medo, desconforto, ou aversão que estudantes e a sociedade em geral apresentam em relação a conceitos científicos, aos cientistas, e a atividades relacionadas à ciência) e, a partir de uma leitura do poder ideológico e do poder corporificado, discute aspectos relacionados à raça e ao gênero nesse fenômeno. O capítulo três discute o conceito-irmão de Ansiedade à Matemática, e como este se relaciona com crenças de autoeficácia e bloqueios de aprendizagem, e como o poder ideológico, o poder coercitivo e o capital cultural e o controle aversivo contribuem para esses estados. O último capítulo se dedica a apresentar o ensino informado pelo trauma; a percepção de que processos traumáticos podem impactar uma grande quantidade de domínios da vida vêm alcançando também a educação, com o desenvolvimento mais amplo de estratégias que ajudem educadores a “quebrar o ciclo do trauma” vivido por estudantes. Utilizando-se amplamente do paradigma apresentado no capítulo 1, demonstramos como aspectos do poder localizados nos diversos microssistemas nos quais o aluno se insere contribuem para a criação de processos traumáticos, e como esses processos traumáticos impactam negativamente a sala de aula e a aprendizagem. Trata-se, é claro, de uma incursão breve no tema, mas esperamos que possa contribuir para discussões e práticas mais críticas na interface entre emoção e aprendizagem em sala de aula. Para além de uma educação que busque adequar o aluno ao que é esperado socialmente dele, “adestrando-o” para um mercado de trabalho, os nossos estudos vêm apresentando consistentemente a necessidade de uma visão crítica sobre esses fenômenos, e de agir em diversos níveis dos micro e mesossistemas. Boa leitura! Caio Maximino

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Que as emoções façam parte do cotidiano da sala de aula, ninguém têm mais dúvidas. Não só professores e professoras vivem e convivem diariamente com aquilo que alunas e alunos nos trazem diariamente, como cada vez mais o campo da educação exige um olhar para os aspectos emocionais da vida escolar. Uma convergência de campos de pesquisa vêm apontando para como o desenvolvimento de uma rica vida emocional é mais do que somente um “empecilho” para a educação, mas parte integral da aprendizagem. Mary Helen Immordino-Yang e Antonio Damásio falam em “pensamento emocional”; e há cada vez mais pressão para uma “educação sócio-emocional” a-crítica e a-histórica. O que esse volume pretende é apresentar um campo de estudos sobre as emoções em sala de aula que discute como a escola, na forma de um microssistema que pode reproduzir tanto operações de poder quanto produzir potência e liberdade, pode agir para produzir ansiedade e fortalecer traumas, ou para mitigar traumas e romper barreiras erguidas pela ansiedade à matemática, às ciências e à avaliação. Esse volume é fruto de cinco anos de pesquisa do Grupo de Pesquisas em Neurociências, Comportamento & Cognição (Unifesspa), no campo da educação em ciências e matemática, e do Grupo de Estudos e Pesquisa em Ensino de Ciências (Gepec/Unifesspa). Juntando achados das neurociências, da psicologia educacional e escolar, da psicologia social, da teoria da atividade, da sociologia das emoções, e da teoria crítica, nos aprofundamos em tentar entender fenômenos como a Ansiedade às Ciências, a Ansiedade à Matemática, e o ensino informado pelo trauma, e como professores e professoras compromissados com uma educação libertadora podem utilizar esses conhecimentos para, através de uma “curadoria afetiva”, discutir essas emoções negativas, re-ligá-las às suas raízes comunitárias e coletivas, e levar a escola a assumir um papel ativo na vida emocional de seus estudantes. Longe de encontrar “receitas de bolo”, o professor e a professora encontrarão aqui uma perspectiva crítica e transdisciplinar sobre esses fenômenos, suas relações e impactos na aprendizagem, e como a escola pode contribuir para gerar ou manter estados de ansiedade, estresse, e trauma – ou, se aberta à criticidade de suas próprias práticas, mitigar esses estados ao reconectá-los às suas raízes coletivas No primeiro capítulo, apresentamos um paradigma geral para avançar além da “educação socioemocional”, a-crítica e a-histórica, conectando teóricos como Mary Helen Immordino-Yang, Antonio Damásio, Albert Bandura, Vygotsky e Bronfenbrenner à leitura crítica das relações entre saúde mental e opressão contidas na Abordagem Poder-Ameaça-Significado. Esse paradigma geral serve de base para a compreensão dos outros fenômenos analisados nos próximos capítulos. No segundo capítulo, apresentamos o conceito de Ansiedade às Ciências (o medo, desconforto, ou aversão que estudantes e a sociedade em geral apresentam em relação a conceitos científicos, aos cientistas, e a atividades relacionadas à ciência) e, a partir de uma leitura do poder ideológico e do poder corporificado, discute aspectos relacionados à raça e ao gênero nesse fenômeno. O capítulo três discute o conceito-irmão de Ansiedade à Matemática, e como este se relaciona com crenças de autoeficácia e bloqueios de aprendizagem, e como o poder ideológico, o poder coercitivo e o capital cultural e o controle aversivo contribuem para esses estados. O último capítulo se dedica a apresentar o ensino informado pelo trauma; a percepção de que processos traumáticos podem impactar uma grande quantidade de domínios da vida vêm alcançando também a educação, com o desenvolvimento mais amplo de estratégias que ajudem educadores a “quebrar o ciclo do trauma” vivido por estudantes. Utilizando-se amplamente do paradigma apresentado no capítulo 1, demonstramos como aspectos do poder localizados nos diversos microssistemas nos quais o aluno se insere contribuem para a criação de processos traumáticos, e como esses processos traumáticos impactam negativamente a sala de aula e a aprendizagem. Trata-se, é claro, de uma incursão breve no tema, mas esperamos que possa contribuir para discussões e práticas mais críticas na interface entre emoção e aprendizagem em sala de aula. Para além de uma educação que busque adequar o aluno ao que é esperado socialmente dele, “adestrando-o” para um mercado de trabalho, os nossos estudos vêm apresentando consistentemente a necessidade de uma visão crítica sobre esses fenômenos, e de agir em diversos níveis dos micro e mesossistemas. Boa leitura! Caio Maximino

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